sábado, 19 de julho de 2025

Objecto mistério Nº 58. Resposta: Bordaloue

 

Como uma das pessoas comentou no Facebook: “se a resposta fosse molheira era muito fácil”. Na realidade este tipo de objecto assemelha-se às molheiras pela sua decoração floral, mas a sua forma é ligeiramente diferente, isto é, não tem bico e o corpo é um pouco mais largo. O seu fim também era diferente. Designado bordaloue era um mictório feminino.

Surgiu no início do século XVIII, quando as casas de banho não existiam, e o seu uso manteve-se durante o século XIX. À medida que começaram a ser construídos sanitários nas casas e outros edifícios, o uso destes objectos reduziu drasticamente e hoje são exemplares raros.

Embora sem provas, diz-se que o seu nome se deve ao do jesuíta francês Louis Bourdaloue (1632-1704), conhecido pelos seus sermões cativantes de mais de uma hora de duração, que as senhoras ouviam com enlevo.

Na época, as senhoras usavam saias longas e largas, sem calças por baixo. Isso permitia-lhes usar discretamente o vaso trazido por suas criadas para se aliviarem em eventos públicos ou em viagens.

O facto de serem pequenos e neste caso é extraordinariamente leve, facilitava seu transporte e o acondicionamento em viagens. Mas eram também usados em banquetes demorados, onde as damas se escondiam atrás das cortinas quando precisavam de urinar.

Quanto aos homens, nesses banquetes, e a avaliar por gravuras inglesas, tinham bacios escondidos nos armários da sala de jantar.

Gravura inglesa de 1814
Após a refeição as senhoras recolhiam a uma sala para tomar o café e licores, enquanto os elementos masculinos ficavam na sala de jantar para conversarem e beberem as bebidas alcoólicas próprias para homens. O resultado era evidente.

 

.

terça-feira, 15 de julho de 2025

Objecto Mistério Nº 58. Pergunta.

 

O objecto que hoje apresentamos em cerâmica, muito leve, apresenta uma boca oval, com as dimensões de 15 x 10 com, excluindo a asa ou pega.  

Como se designa e qual a sua utilidade?


quarta-feira, 2 de julho de 2025

Separadores de pratos

Confesso que nunca tinha visto separadores de pratos feitos especialmente para esse fim. Em tecido branco, de piqué de um lado e feltrado do outro, ou com belos tecidos coloridos, todos se apresentam orlados. Mais frequentemente com fita de seda, por vezes com gorgorão, ou mesmo com franja.

Outros modelos são duplos, abertos num dos lados, e com fitas que permitem acondicionar no seu interior um prato especial que se quer proteger. Embora a maioria sejam circulares, existem também ovais para travessas.

Hoje em dia as pessoas colocam, de forma prática, folhas de rolos de papel de cozinha para separar os pratos que se desejam empilhar. Funciona, mas não corresponde ao mesmo efeito protector. Podem também encontrar-se, em raras lojas, protectores em feltro, mas não têm a beleza destes exemplares.

Datados alguns do final do século XIX e outros do início do século XX, são espelho de um requinte e cuidado de protecção de pratos de qualidade.

Para mim, foi uma descoberta e um encantamento pelas coisas simples, cuidadas. Sempre a aprender!



 

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Congresso da Associação Hispânica dos Historiadores de Papel

 

Vai ter lugar em Lisboa, na Biblioteca Nacional, nos dias 26, 27 e 28 de Junho, o referido congresso internacional. Irei apresentar o tema “Marcas de água em manuscritos de culinária”.

É um tema importante que muito esclarece sobre as obras conhecidas e que ajuda a adicionar muitas mais informações do que o mero estudo das receitas. O seu estudo evita muitos dos disparates que às vezes se dizem por aí.

Nas minhas publicações sobre livros de receitas antigos procurei sempre completar o estudo com estas informações.

O resto do programa é muito interessante e pode ser consultado em:   https://ahhp.es/xv-congreso-internacional-ahhp-programa-definitvo/ 

quarta-feira, 18 de junho de 2025

Brincar às casinhas

Tenho ao longo dos anos adquirido várias caixas com conjuntos de cozinha ou sala destinadas a brincadeiras de meninas, algumas já aqui apresentadas. São conjuntos fabricados em Portugal, na grande maioria de meados do século XX. São normalmente reproduções simples de objectos em uso na época. 

Fiquei por isso surpreendida ao ver esta caixa com utensílios destinados à decoração de uma mesa, com tantos pormenores. O objecto em causa faz parte da colecção do Dr. Carmelo Aires que me permitiu fotografá-lo. Aparenta datar do início do século XX e pormenores, como o papel destinado ao menu e o guardanapo com a sua argola, tornam-no raro. 

O uso do alumínio, que se generalizou no final do século XIX, e que ocupou um lugar importante na cozinha (utensílios vários) e na mesa (sobretudo em talheres), remetem-nos para essa época de deslumbramento pelo novo metal. Na tampa da caixa pode observar-se que se trata de um produto de fabricação francesa (C.B.G.), com múltiplos prémios ganhos em Exposições Universais, desde 1878 a 1900, a grande Exposição de Paris. 

Um presente de luxo na época.

 

terça-feira, 10 de junho de 2025

Um cartão pop-up

 

À primeira vista parece um cartão normal, com uma temática infantil, a Branca de Neve e os Sete Anões, acentuado pela letra de menina que escreveu nele o  nome da amiga (“para a Lúcia”).

Quando se abre percebe-se que é uma carteira de agulhas especial. Para a menina, está visto, que devia aprender a cozer e a bordar desde pequenina.  

Ao abri-lo temos a surpresa de visitar o interior da casa onde vive a Branca de Neve e os seus sete amigos. Completa: com o quarto com as caminhas alinhadas, a cozinha com o grande forno e, em relevo, a mesa onde todos se sentam para comer.

Nas costas, acentuando a infantilidade, dois gatinhos que brincam com novelos de lã. 

É nestas alturas que regressamos à infância.

quinta-feira, 5 de junho de 2025

Um “Pantagruel” espelho da alma

 

Este livro em péssimo estado, com lombada arrancada, folhas soltas, etc. suscitou-me várias sensações. Na realidade, só um livro de culinária se permite chegar a este estado. Provavelmente acarinhado no início, foi tantas vezes consultado que se desmoronou.

Dificilmente um romance sofre um estado de degradação semelhante, ainda que lido várias vezes. E se tal acontecesse seria descartado. Mas os livros de culinária estão habituados a tractos de polé. Consultados em ambiente hostil como é uma cozinha, próximos de alimentos, raramente escapam à aquisição de nódoas. Muitos chegam-me à mão bastante deteriorados, a necessitar de encadernação e transformam-se em belezas. Mas neste estado, acho que nunca vi.

Como a minha saúde não tem sido a melhor, olhei para ele e solidarizei-me com o seu estado. Este vai ficar assim. Fica na classe dos “atados” que ultimamente me têm chegado à mão: atados de receitas; atados de cartas, etc. Uma união espiritual de semelhantes. Já sei que vão pensar que não é o que se espera que se diga de um velho livro de receitas. São dias.